A inteligência se desenvolve a partir de fatores biológicos e ambientais, sendo que para ambiente podemos considerar a experiência física da criança com os objetos e a transmissão social e educativa, como indispensáveis neste processo. Dessa forma, a interação da criança com diferentes objetos e variadas situações favorecem, consideravelmente, seu desenvolvimento cognitivo.
Os estágios do desenvolvimento cognitivo dependem diretamente da interação estabelecida entre a criança e os objetos de conhecimentos.
Piaget (1983) estabelece três grandes períodos do desenvolvimento cognitivo.
Até aproximadamente os 2 anos, denominado de período sensório-motor, o desenvolvimento cognitivo da criança se desenvolve mediante movimentos e percepções. Ou seja, na manipulação e observação do seu corpo, dos objetos e das reações proporcionadas pelas suas ações.
Acompanhe os principais marcos do desenvolvimento intelectual da criança até os 2 anos:
- Até 1 mês – a criança apresenta reações indistintas aos objetos e pessoas, agindo basicamente por mecanismos reflexos.
- De 1 a 4 meses – surgem os primeiros hábitos e o sorriso surge como manifestação do reconhecimento, principalmente para os familiares. Uma característica interessante é a de que o bebê começa a realizar movimentos que são centrados no seu próprio corpo, como por exemplo levar o polegar a boca. A existência de um objeto está condicionada aos seu campo de visão. Dessa forma, se ele não enxerga um objeto, o mesmo não existe.
- Dos 4 aos 8 meses – o bebê gosta de provocar efeitos interessantes e para isso usa da intencionalidade para prolongar manifestações de que gosta, como chutar o móbile que está no berço, derrubar o chocalho no chão e faz isso repetidas vezes. Isso porque, a própria ação da criança reforça o ato praticado.
Nesse momento, a existência dos objetos começam a se mostrar parciais, ou seja, o bebê começa a procurar por um objeto que está semi-escondido, por ex. o brinquedo que não está totalmente visível porque uma almofada está cobrindo uma parte dele.
No campo da imitação, o bebê começa a imitar os gestos que consegue enxergar no seu corpo, como por exemplo bater palmas, acenar dando tchau.
- Dos 8 aos 12 meses – o bebê já sabe que os objetos existem independente do seu campo de visão, mas ainda não há a coordenação de possíveis deslocamento desses objetos. Por exemplo, uma bola que é lançada e corre para debaixo de um móvel, mas que por bater na parede se movimenta para outro ponto do ambiente. O bebê irá procurar a bola, especificamente, embaixo do móvel, pois não prevê o deslocamento. Com relação a imitação, o bebê começa a imitar movimentos familiares, como falar ao telefone, embalar a boneca como se fosse um bebê e aqueles invisíveis ao próprio corpo, como piscar e mandar beijo.
- Dos 12 aos 18 meses – a exploração e experiência com os objetos são traços marcantes. O bebê adora uma novidade e realiza experiências para verificar como os objetos reagem em diferentes circunstâncias. É só observar a hora do banho quando se coloca diferentes brinquedos na banheira, em que o bebê testa os objetos para descobrir novos efeitos. Outra característica que será importante está baseada em condutas que coordenam as ações do bebê com os objetos, como quando ele utiliza um objeto para aproximar um brinquedo que ele quer, agarra-se a um móvel para conseguir alcançar algo. São condutas importantes, pois demonstram o início da capacidade de resolver problemas de maneira prática, mas que podem causar acidentes. Fique de olho no bebê nesse período!
- Dos 18 aos 24 meses – A criança “pensa” através de movimentos. Ou seja, há a interiorização das ações, das condutas para resolver problemas que foram iniciadas na fase anterior. No campo da imitação, a criança já consegue imitar um modelo ausente. Uma característica marcante é o início da linguagem. Seu pensamento é egocêntrico, o que significa que a criança acredita que as pessoas pensam da mesma maneira que ela, impossibilitando analisar várias perspectivas de uma situação.
As características desses primeiros dois anos de vida da criança serão a base de todo o seu desenvolvimento cognitivo. É a partir delas que os processos intelectuais serão ampliados e melhorados. E o fundamental para uma boa base cognitiva é a interação das crianças com as pessoas, objetos e diferentes situações que devem ser mediadas pelo diálogo.
Dos 2 aos 10/11 anos temos o período operatório quese divide em dois momentos: o pré-operatório, dos 2 aos 6/7 anos aproximadamente e o das operações concretas dos 7 anos aos 10/11 anos.
- No período pré-operatório a criança amplia, consideravelmente, sua forma de comunicação devido a aquisição da função simbólica (imagem mental, desenho, jogo simbólico, linguagem e imagem diferida) que permite a ela evocar um objeto ausente, desenhar e planejar ações mentalmente. Seu pensamento continua egocêntrico e a criança não consegue fazer a diferenciação entre o mundo físico e o psíquico. Ou seja, a criança usa diferentes recursos para compreender o mundo, como por exemplo dar vida a objetos inanimados. Em seus desenhos, o sol, a casinha, a cenoura têm olhos, boca e nariz. É uma forma dela demonstrar aquilo que vê de si mesma e tenta coordenar isso para conhecer o mundo.
- No período das operações concretas, a criança começa a operar com o pensamento por meio de situações concretas.
O que isso significa?
Por exemplo, ao adquirir a noção de número, a criança inicia quantificando materiais concretos e depois internaliza a quantidade não necessitando mais do apoio desses materiais. E assim, acontece com as noções que são internalizadas nesse momento, como as de classe, comprimento, massa, peso e volume, que serão noções importantes para a aprendizagem escolar.
É nesse período que se inicia a superação do egocentrismo e o pensamento da criança ganha características de reversibilidade, ou seja, como ela tem a capacidade de fazer operações mentais consegue perceber que 3 + 2 = 5, então, 5 – 2 = 3, fazendo inversões.
O último período do desenvolvimento cognitivo é o das operações formais, dos 11/12 anos em diante, momento em que o adolescente pensa de maneira mais abstrata, permitindo o raciocínio do pensamento hipotético-dedutivo, articulando argumentações mais significativas. Ela pensa em hipóteses possíveis e analisa ações e consequências a médio e longo prazos, articulando diferentes sistemas, como os do mundo físico e social.
Com relação as ações e consequências, há um início de análise ainda que pontual, mas que já marca capacidades importantes, como a intencionalidade e a mudança de perspectivas. Nesse momento o egocentrismo foi superado.
Favorecemos o desenvolvimento cognitivo quando:
- Possibilitamos o brincar livre, os jogos simbólicos (faz-de-conta) e os jogos com regras (esse será o tema do próximo capítulo).
- Colocamos às crianças brincadeiras ou situações que tenham um desafio/problema a ser resolvido. Por exemplo, descobrir a sequência correta de acontecimentos, construir ou desenhar objetos a partir de uma temática (sempre solicitando que a criança comente o que fez).
- Possibilitamos que as crianças coloquem objetos em uma determinada sequência (do maior para o menor ou vice-versa) e que estabeleça critérios para separar ou incluir objetos (tamanho, forma e cor).
- Estimulamos a linguagem verbal para a interpretação e análise de situações, histórias e fatos.
- Solicitamos que ela imagine a consequência de alguma situação. Por exemplo, o que acontece quando jogamos lixo no rio, quando brigamos com nosso amiguinho, entre outros (sempre instigando que ele se coloque no lugar do outro).
Referências
PIAGET, J. Problemas de Psicologia Genética.In: ________. Epistemologia Genética; Sabedoria e Ilusões da Filosofia; Problemas de Psicologia Genética. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 209-294 (Coleção Os Pensadores)
PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas. Trad. Profª Dra Marion Merlone dos Santos Penna. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.
PIAGET,J.A linguagem e pensamento na criança.Rio,FundodeCultura,1973.
3 Comments
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