A contribuição do desenho para a linguagem escrita

A contribuição do desenho para a linguagem escrita

Desenhar, além de permitir um movimento motor prazeroso, possibilita que a criança represente seu conhecimento do mundo.

É através do desenho infantil que o desenvolvimento da escrita vai sendo constituído, no sentido de que se pode representar as letras do alfabeto, os números, assim como, perceber que as marcas produzidas no papel possuem significado e capacidade de comunicação.

Assim, há um longo caminho no desenvolvimento do desenho infantil até a escrita e esse processo dependerá dos aspectos cognitivo e motor (que também estão em construção). Cognitivo por se tratar de uma representação e de uma estruturação do espaço e motor porque pressupõe a coordenação dos movimentos corporais e a integração das sensações e da afetividade ao sistema nervoso, fazendo com que os movimentos ganhem intencionalidade e intensidade.

Vejamos algumas características do desenho infantil:

  • Até os 3 anos aproximadamente, a criança passa por uma fase do desenho infantil que é denominada de garatujas. O controle motor ainda não está muito desenvolvido e, dessa forma, a criança ignora os limites da folha ao rabiscar. (LOWENFELD & BRITTAN, 1997).
  • Dos 3 aos 4 anos aproximadamente, o controle motor já está um pouco melhor e as tentativas de representar as figuras humanas são ampliadas, mesmo que ainda faltem elementos no desenho.
  • Dos 4 aos 5 anos, amplia-se as possibilidades de representação da criança devido a inserção dela em outros meios sociais e culturais e, dentre eles, está a escola. A criança desenha as experiências do cotidiano, bem como temas clássicos, como casinhas, animais, (hoje em dia os dinossauros estão em alta) e super-heróis (LOWENFELD & BRITTAN, 1997).       
  • Dos 7 aos 9 anos, a criança constrói o conceito de forma e seus desenhos começam a ter maior rigor nos detalhes. É um momento em que a criança quer ter certeza de que o adulto reconhece os seus desenhos e passa a inserir legendas em sua representação (LUQUET, 1979).
  • Dos 9 anos em diante, a criança caminha para tendências cada vez mais realistas. Isso significa, que ao desenhar ela busca uma representação mais fiel dos objetos. Seus traçados ganham perspectiva e projeção, apresentando noção de espaço e profundidade (LUQUET, 1979).

Para auxiliar nesse processo podemos:

  • Estimular as crianças a desenharem. Como o aspecto motor também estará sendo ampliado inicie desenhando com guache e o dedo, depois com o giz de cera grosso que facilita o início da pegada e aos poucos vá inserindo pincel e lápis.
  • Incentive o desenho de diferentes temáticas. A criança tem a tendência a desenhar aquilo que está acostumada, mas ao solicitar temas que ela não tem familiaridade possibilitamos o desenvolvimento de novos conhecimentos e ampliamos seu repertório criador.
  • Não espere que a criança faça uma representação fiel de objetos ou histórias. O que interessa é a experiência!

Mas qual a relação da linguagem escrita com o desenho?

Lembra que dissemos que as crianças demostram em seus desenhos a estruturação do espaço? E que em termos cognitivos o desenho é uma representação?

Então, a linguagem escrita é uma representação e, portanto, necessita da estruturação do espaço, seja pelo traçado das letras ou pelo seu posicionamento correto (b ou d).

Mais especificamente, os rabiscos da criança ao tentar representar a escrita são puramente uma imitação do formato externo que ela observa nos adultos. Assim, seus rabiscos não têm forma. Ao perguntar para criança o que está fazendo quando rabisca o papel, imediatamente ela diz, escrevendo.

Lembra que falamos que o desenho favorece o conhecimento e o reconhecimento do mundo?

Então, desenhar é muito importante para a aquisição da linguagem escrita, pois o repertório construído favorece a criação de enredos e narrativas que irão contribuir com esse processo.

De nada adianta as crianças saberem codificar e decodificar nosso sistema de representação da escrita se não souber o que escrever. Se não conseguem articular os fatos, as ideias para colocá-las no papel.

Aqui as minhas dicas continuam no que se refere ao desenho infantil, mas que possibilitarão o desenvolvimento de elementos importantes para a aquisição da linguagem escrita.

  • Estimule as crianças a falarem sobre os seus desenhos. Isso possibilitará a construção de sequência de fatos.
  • Quando a criança demonstrar que já apresenta sequência, pegue uma folha de sulfite, dobre ao meio para fazer uma marcação e peça para ela desenhar algo que aconteceu antes e depois. Com o tempo vá dificultando esse processo. Dobre a folha de modo que fique com três marcações e peça para criar uma história com começo, meio e fim e depois faça o mesmo com a folha em quatro partes.
  • Explore todas as possibilidades de linguagem da criança através do desenho.

Referências

DELVAL, J. Da ação direta à ação imediata: a representação. In: ________. Crescer e Pensar: a construção do pensamento na escola. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.

LOWENFELD, V. & BRITTAIN. Desenvolvimento da Capacidade criadora. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

LUQUET, George Henri. O desenho infantil. Trad. Maria Teresa Gonçalves de Azevedo. Porto: Livraria Civilização, 1979.

PIAGET,J.A linguagem e pensamento na criança.Rio,FundodeCultura,1973.

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